quinta-feira, 21 de outubro de 2010

ápice


Man Ray " O violino d'Ingrés" 1924


revela-se uma unidade de destinos;
folhas pousadas no chão no seu último registo
como as dos plátanos , tão coloridas
e passos por cima naquele olhar angular e dirigido –

libertam-se os fumos dissonantes, subjectivos, a divagação das pinhas
quando ainda próximas de chuvas e vento, não à muito tempo
na presença alta dos pinheiros, enquanto
enquanto não se assume a intenção e o segredo;
a chave de miríades sensitivas, a essencial filosofia
a imponderável e permanente chama;
silêncios e paralelismo –

as águas da nascente foram titubeantes
quase presas, de poucos avanços, sem ganhar terras
sem descer montes, sem ganhar leitos, sem ver as pontes –

as águas da nascente são longas, largas e fluídas.
as margens ? de árvores tatuadas
inscritas de símbolos, marcas íntimas –

os pássaros planam planos por sobre
as curvas insinuantes e rumorosas do agora rio.
as rochas arredondam-se e despem-se sem frio.
separam-se as ausências e cessa o grito
a voz rouca do céu , do relâmpago, tão bravio –

destino uníssono
múltiplos dias de melopeia
linhas do mesmo linho
cordas de um piano
teclas agudas de um violino
ápice desvelado sem neblina –

passou pouco tempo. bem sei.
mas o que é o tempo?
o que vale o tempo?
senão o recíproco ?
quando recebemos e somos dádiva
no signo, na alma, na transparência

como quando se chora de alegria –

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