terça-feira, 15 de junho de 2010
A taça de chá
retirado da internet
O luar desmaiava mais ainda uma máscara caida nas esteiras bordadas. E os bambus ao vento e os crysanthemos nos jardins e as garças no tanque, gemiam com ele a adivinharem-lhe o fim. Em roda tombavam-se adormecidos os idolos coloridos e os dragões alados. E a gueisha, porcelana transparente como a casca de um ovo da Ibis, enrodilhou-se num labyrinto que nem os dragões dos deuses em dias de lagrymas. E os seus olhos rasgados, pérolas de Nankim a desmaiar-se em água, confundiam-se cintilantes no luzidio das porcelanas.
Ele, num gesto último, fechou-lhe os lábios co'as pontas dos dedos, e disse a finar-se:--Chorar não é remédio; só te peço que não me atraiçoes emquanto o meu corpo fôr quente. Deitou a cabeça nas esteiras e ficou. E Ela, num grito de garça, ergueu alto os braços a pedir o Ceu para Ele, e a saltitar foi pelos jardíns a sacudir as mãos, que todos os que passavam olharam para Ela.
Pela manhã vinham os vizinhos em bicos dos pés espreitar por entre os bambus, e todos viram acocorada a gueisha abanando o morto com um leque de marfim.
A estampa do pires é igual.
Almada Negreiros, in 'Frisos - Revista Orpheu nº1'
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