quarta-feira, 2 de junho de 2010

de ombros subidos


Salvador Dali "cão dormindo na sombra do mar" 1950

no amanhecer de sol farto
ganha raízes a mágoa.
cobre a alma
soçobra breve na resistência de muralha.

por sobre a língua prova-se a pimenta
o picante externo e azedo de ervas
algumas ditas de aromáticas.

em alguma manhã brisa e um mar
leve, de leve para não acordar, de leve
para cintar a mágoa num búzio de chumbo
cinzento e inerte reboando tudo
dentro, dentro de uma mensagem presa.

o sol marca a pele nua, morena
não enchuva nem enmolha
permanece no silêncio do corpo e da voz.
não incomoda enquanto o mar cobre
cobre de altura os pés nos dedos de água
e areias sobre, sobre os dedos
por sob os dedos, repartindo o brilho
de ondas, leves ondas livres pintadas de branco.

de ombros subidos, subidos do meio do chão
os olhos num saco de raios, pousados
nos verdes limos das rochas escorridas
a condicionar as algas de serem grossas e carnudas
nas voltas dos tornozelos
de terem borbulhas nos alvéolos de génese
de outras folhas, macias e húmidas.

o sol é bravio, insistente, forte, de olhos quentes
e as algas seguem os passos sem mágoa
a mágoa presa no búzio de metal
búzio de metal, de chumbo –

brisa. a brisa de alguma manhã segue os ombros
e os cabelos agora curtos que desnudam a coluna
- a brisa sopra, fresca arrepia, causa uma hirta melodia
intermezzo de piano em saliências visíveis.

o viajante caminha, sonha e sobrevive-

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