segunda-feira, 26 de abril de 2010

para que os peixes saibam


Amadeu Sousa Cardoso "Entrada"


nunca por nunca de qualquer modo
quis pálpebras tristes janelas fechadas
sem asas sem aves sem árvores.
corro.corro. junto ao jardim da buganvília
à fonte da boca d'água e cara de teatro.
desço.desço. a rua inclinada
até à margem só de madrugada
de orvalho sem vivalma. e grito. grito.
para que todos os peixes saibam
que nunca. nunca por nunca
quis teus olhos tristes
os braços como espadas
os ombros altos de muralhas
e os lábios a sete chaves
sem o sopro das palavras.

6 comentários:

André Domingues disse...

José,

Rico este texto onírico! "Braços como espadas" lembra-te o título de um livro de poemas do grande Vicente Aleixandre, prémio nobel: "espadas como labios".

Um abraço

josé ferreira disse...

Olá André
Obrigado. não conheço a poesia de Vicente Alexandre mas vou investigar

Abraço

Anabela Couto Brasinha disse...

Olá José
Só hoje visito este lugar,
e como sempre aprecio os versos,

e ficou retido,
"e os lábios a sete chaves
sem o sopro das palavras"

Um abraço

liliana disse...

José
Adorei este seu poema, "para que os peixes saibam que nuca quis teus olhos tristes, os ombros altos de muralhas e os lábios a sete chaves". A distância de um amor fechado num castelo alto. A tristeza que vem de sentir o outro triste. Obrigada

josé ferreira disse...

Anabela e Liliana
Obrigado. foi um poema sentido.

auxília disse...

buganvília. orvalho. peixes. olhos tristes. lábios a sete chaves - fragmentos de um poema que são imagens de uma realidade tão próxima.
Gostei muito.Beijo.