Amadeu Sousa Cardoso "Entrada"
nunca por nunca de qualquer modo
quis pálpebras tristes janelas fechadas
sem asas sem aves sem árvores.
corro.corro. junto ao jardim da buganvília
à fonte da boca d'água e cara de teatro.
desço.desço. a rua inclinada
até à margem só de madrugada
de orvalho sem vivalma. e grito. grito.
para que todos os peixes saibam
que nunca. nunca por nunca
quis teus olhos tristes
os braços como espadas
os ombros altos de muralhas
e os lábios a sete chaves
sem o sopro das palavras.
6 comentários:
José,
Rico este texto onírico! "Braços como espadas" lembra-te o título de um livro de poemas do grande Vicente Aleixandre, prémio nobel: "espadas como labios".
Um abraço
Olá André
Obrigado. não conheço a poesia de Vicente Alexandre mas vou investigar
Abraço
Olá José
Só hoje visito este lugar,
e como sempre aprecio os versos,
e ficou retido,
"e os lábios a sete chaves
sem o sopro das palavras"
Um abraço
José
Adorei este seu poema, "para que os peixes saibam que nuca quis teus olhos tristes, os ombros altos de muralhas e os lábios a sete chaves". A distância de um amor fechado num castelo alto. A tristeza que vem de sentir o outro triste. Obrigada
Anabela e Liliana
Obrigado. foi um poema sentido.
buganvília. orvalho. peixes. olhos tristes. lábios a sete chaves - fragmentos de um poema que são imagens de uma realidade tão próxima.
Gostei muito.Beijo.
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