elevo-me
acima das nuvens
pairo dormente
e corpo
e mente
ausente
nem vivo
nem morto
nem nada
anestesia
ilusão
intervalo
vida que não quero
ser que não sou
enfeito-me
de Natal
efémero no brilho
que não dura
que não muda
nem vivo
nem morto
nem nada
só
3 comentários:
Clara gostei muito. há uma leveza "efémera" de nuvem que passeia todo um poema flutuante. a estrofe preferida é "enfeito-me /de Natal/que não dura/não muda".
Abraço
Poupei nas palavras e nas ideias. Nesta altura em que há um desmesurado exagero em tudo o que é superficial, decidi ir contra a corrente.
Pôs-me a relectir, o seu poema, Clara!
Achei lindíssimo a ideia de evasao consciente ao mundo das aparências («elevo-me», «pairo») criando um distanciamento, e buscando um espaço e um tempo poéticos («anestesia / ilusão / intervalo») que geram um processo alquímico, transformador, purificador («vida que não quero / ser que não sou»). Belíssima, a relação que estabelece com o Natla de fora (efémero no brilho»)com o de dentro («que não dura / que não muda»), que é intemporal e universal, e que surge como um olhar agudo e crítico sobre o modo como se está a revelar o Natal, sem luz interior, só enfeite, oco, «só nada».
Obrigado pelo poema, e parabéns.
Enviar um comentário