domingo, 27 de dezembro de 2009

Aquela nuvem




Aquela nuvem

Parece um cavalo...

Ah! Se eu pudesse montá-lo!

Aquela?

Mas já não é um cavalo,

É uma barca à vela.

Não faz mal.

Queria embarcar nela.

Aquela?

Mas já não é um navio,

É uma torre amarela

A vogar no frio

Onde encerraram uma donzela.

Não faz mal.

Quero ter asas

Para a espreitar da janela.

Vá, lancem-me no mar

Donde voam as nuvens

Para ir numa delas

Tomar mil formas

Com sabor a sal

- Labirinto de sombras e de cisnes

No céu de água-sol-vento-luz concreto e irreal...

José Gomes Ferreira, Poesia IV

6 comentários:

Odete disse...

Gosto muito desta poesia, como de tantas outras, do José Gomes Ferreira...

Rio disse...

José gostei muito deste poema, é muito leve e curioso pelo mundo. Se me permites faço dois apontamentos: acho que deveria ser lancem-me ao mar (é mais sonoro, mais solto, mais visual) e sinto uma certa quebra de ritmo no final do poema. Não sei, é a minha opinião... beijinho

josé ferreira disse...

Odete por vezes poetas como José Gomes Ferreira são esquecidos e tem versos lindíssimos e leves como os desta nuvem, partilho inteiramente da sua admiração pela sua poesia.

Abraço

josé ferreira disse...

Olá Sara

Realmente gostei de partilhar este universo de mar insustentável de leveza que José Gomes Ferreira nos deixou nesta poesia.
Concordo contigo "lancem-me ao mar" é mais sonoro e visual e cria uma divisão no meio do poema, talvez como dizes com dois ritmos sendo o segundo mais preso e menos sonhador.
Que nos perdoe o poeta mas entrando pela análise aquele "donde" não me entra no ouvido e ouso propor "onde
há nuvens a voar/ ir numa delas..."

Bjo.

José Almeida da Silva disse...

Olá, Amigos!

Este poema do José Gomes Ferreira é fantástico!

As propostas da Sara e do José Ferreira podiam fazer sentido, mas seria bem diferente daquele que, muito provavelmente, exprime o poeta: «lancem-me no mar», segundo creio, parece exprimir o desejo de o sujeito poético se tornar, também ele, na água do mar, que se evapora e se faz nuvem, pelo que faz todo o sentido que seja «Donde voam as nuvens /
Para ir numa delas», sugerindo a necessidade do "eu" fugir da sua realidade, evadindo assim pelo sonho.
A preposição contraída sugere essa contaminação do ser líquido e do "eu" poético de que resulta uma outra realidade - a do sonho; enquanto a preposição contraída remete para o lugar (mar)onde se procede ao processo de transformação da água em nuvem, e da realidade em sonho.

Um abraço e Bom Ano.

José Almeida da Silva disse...

A primeira preposição contraída é «no» e a segunda «donde».
Não percebi por que não ficaram registadas na mensagem anterior.

As minhas desculpas. E outro abraço.