terça-feira, 29 de dezembro de 2009

2010 oxigénio na terra


Salvador Dali "céu hiparxiológico" 1960

O champanhe para este ano é de Lamego
sem escadas nem rosário.
As passas mais doces são coríntias
num prato de palmas e aleluias.
Os desejos? Os desejos são sempre muitos
os segredos não denunciados dentro de brilhos
os paraísos de lagoas sem penumbras
e pássaros de fogo.

Uma década e um desejo colectivo.
Para todo o universo como um perfume
que oscile o rosto, eleve na cor da nuvem.
Nem todas as premonições na atmosfera
no planisfério: não há este inverno
máquinas tecnológicas no deserto
nem insectos de chapa, nevoeiro de naves
ventoinhas no caminho de luas
criaturas verdes nos céus de Marte.

Um desejo colectivo: mais oxigénio.

Uma década. A próxima é um mistério;
um oceano de gente esperta
com pés de gelatina na transparência de anémonas?
Ou antes ninfas e ninfos com asas de borboletas
saboreando chá de rosas num campo de violetas?

A década precisa mais oxigénio.
Uma vida menos presa nos fios da aranha.
Cada ser deve ter o seu peso. A balança
deve ser subtil, subtil e leve como o vento
com braços de essência. Invisível.
Sem que ninguém saiba
no meio dos lábios sentirá a alma
E quanto mais leve, mais leve a alma
maior o tempo.

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