Mais um poema do Nuno Júdice um poeta que muito admiro desde que me chegou às mãos o livro "Cartografia de Emoções".
Hoje deixo-vos um poema que vem publicado num livro oferta com o Jornal de Letras. Chamou-me à atenção o nome e o síndrome "Peter Pan" que por vezes me seduz no desejo de elevar um pouco os braços e em magia de "Sininho" tocar as estrelas, conversar na Lua e espreguiçar-me coçando lentamente os olhos aos primeiros raios de Sol, ou seja cobrir-me de um sentir de girassol na direcção exacta da Luz.
A terra do nunca
Se eu fosse para a terra do nunca,
teria tudo o que quisesse numa cama de nada:
os sonhos que ninguém teve quando
o sol se punha de manhã;
a rapariga que cantava num canteiro
de flores vivas;
a água que sabia a vinho na boca
de todos os bêbedos.
Iria de bicicleta sem ter de pedalar
numa estrada de nuvens.
E quando chegasse ao céu, pisaria
as estrelas caídas num chão de nebulosas.
A terra do nunca é onde nunca
chegaria se eu fosse para a terra do nunca.
E é por isso que a apanho do chão,
e a meto em sacos de terra do nunca.
Um dia quando alguém me pedir a terra do nunca
despejarei todos os sacos à sua porta.
E a rapariga que cantava sairá da terra
com um canteiro de flores vivas.
E os bêbedos encherão os copos
com a água que sabia a vinho.
Na terra do nunca, com o sol a pôr-se
quando nasce o dia.
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