sábado, 3 de janeiro de 2009

A pepita de uma brasa

Não me fales do Jivago das estepes
nem dos gumes afiados dos palácios
do teu gelo

Sei onde estão
quando findos lumes são destino
e os desejos desvario.

Estende-te aqui comigo no tapete de lã
merino, ao comprido, na sala do piano
onde ardentes as brasas são recinto
circunscrito circo de cenas
arena dos barulhos de silêncios.

Porque te cintas num anel Nibelungo
nos acesos comentários de Weimar
construindo razões débeis de atenção
nesse íman fraco de plástico
estático suporte de encantos supostos
que o não são.

Elimina a pose, solta a lágrima
abre a cratera desnuda da fúria
avalanche de esfera e sem arestas
agiganta o que te digo sempre - sublima!

Há o brilho na bola de sabão - azul e frágil
no amarelo-metal - encantador
no cinza frio - prata ou alumínio
e no teu sorriso - que arrepia o dorso
amolece a face, humedece a nascente
do meu rosto - sublinha
as palavras que não disse
não tive tempo.

Embora sinta cada um como cúpula
cada polpa do seu dedo na sala dividida
e um vidro plano duplo ao meio cinda
a linha fronteira das marquesas
estonteando as frases de ecos distantes
(chaves partidas de cofres errados),
nas diversas chaminés sobem fumos quentes
arrastam fuligem refractária
adensam a sina que adivinha
sucedidas terapias, unos sentidos.

Somos agora
olhos de lado ligados
longe dos
siderados hipnóticos mortais dos
falsos tectos de focos halogéneos
das falsas paredes cegas de luzes
extintas

Reassumindo o estaladiço crepitar
a pepita de uma brasa
que estilhaça o vidro glacial

Tudo termina numa frase:
"Este Inverno no jardim
pequenas violetas no canteiro
e mais à frente ali à esquerda
junto ao limoeiro
quatro lírios roxos
raiados de lábios amarelos;
não costuma ser assim
em Janeiro a natureza"

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