Que não te apague a luz -
que nunca;
sombra, nata de névoa escorre
cega no espelho do império, nas
cataratas espessas da madeira.
Dobram os olhos do pintor real -
no espaço trata uma obcessão,
bando de súplicas para que os teus dias
dialoguem com o sol de uma bandeira.
Que não te canse o lume -
que nunca;
na cauda de menina-luz a cozer ditados
ao animal cioso que cuida belezas.
Bichos quase caseiros - a lareira costurando
o fogo. Que todos te acendam rendados
em pregas de claras cores, modelos
de olhos caprichosos de menina;
esboços e estudos a gris, namorando
a tela-luz do contraste que dominas.
Que nunca! Futuros modernos?
Prendam esses ladrões de ares de altivez,
pois nunca é muito como te vês.
Que nenhum lobo marinho
venha ao sul secar o teu sangue
azul.
Um firme raio - um passo do sol
pincelado séculos atrás, passeia na
na moldura digital na alçada
do hall de entrada do T2.
Pilhas inventam pixels onde sois
princesa, à grande e à castela,
pilhas alcalinas para perpetuar
as meninas,
e a tristeza
de te ver presa
na casa real da
incerteza.
3 comentários:
Gostei tanto!
O que dizer sobre? "Que nunca" é um bom começo repetido. Faz-me lembrar os contos de fadas que de varinha na mão abençoavam as Princesas ainda no berço com desejos eternos de tanta coisa. E quase embala,como as mães que fazem também papéis de fada e que lançam elas sobre os filhos seus desejos infindáveis... desses que nunca se esgotem.
Saliento ainda o verso: "Que nenhum lobo marinho venha ao sul secar o teu sangue azul". Que lindo.
e o final perfeito:
"e a tristeza
de te ver presa
na casa real da
incerteza."
Uma certeza eu pelo menos tenho: que nunca deixes de escrever
António
caro amigo criativo, acho que nos teus poemas procuras construções originais e perfeitas e neste particularmente resulta muito bem a repetição "que não" "...que nunca" que se estende como onda ao longo de elaboradas imagens das quais a do lobo marinho marca e pontua numa poesia a dois tempos de fronteira nítida que me parece quiseste sublinhar no desejo de, num laivo de regresso ao futuro quase colocares a menina no meio da sala para ser adorada em toda a sua perfeição de traço e luz.
Os teus versos exigem, não os consigo comentar na primeira leitura. Mais uma vez gostei e repetindo o que já foi dito
não pares de escrever, nem poesia, nem prosa!
Parabéns!
Um abraço e Bom 2009!
Gostei muito deste poema. Algumas imagens são muito fortes.
'sombra, nata de névoa escorre
cega no espelho do império, nas
cataratas espessas da madeira.'
Muitos parabéns.
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