sábado, 27 de dezembro de 2008

- Casa-se a Menina!

- Casa-se a Menina!


O padre na corda do sino
batina em rodopio de cortina
o vale desperto , o monte papagaio
de ecos repetidos, o alvoroço de ramos
o piado aflito dos bicos pequenos.

As velas reduzem os últimos grãos
sacudidos no saco de orelhas
criando barriga nos assentos
de vazios; nuvens brancas de farinha.

Fim de dia, festa, o sino, o padre e a batina:

Dobra a fivela o eixo do calcamhar
destapa a unha negra do maldito
salpico do turíbolo, pesado bronze
do desiquilíbrio na quina do granito
agora marcado, partido.

Hora especial de missa vespertina:
-Casa-se a Menina!

Filha mais nova de Ti Maria
por sua vez sobrinha do padre Valdevez
pai de três, todas de batina,
à sua vez da Laurinda, Catarina
e da Alzira; crente e bela
mas de outra freguesia.

Entoam-se cânticos
e ninguém diz, ninguém fala
dos anjos de uma só asa.

Outros ecos e a ladainha:
- Casa-se a Menina!

Grita mais alto a hóstia
a sagração do dia
a oração benzida
na hora da eucaristia:
"Corpo de Cristo!" "Ámen!"

- Casa-se a Menina!

1 comentário:

raquel patriarca disse...

não sei porquê mas só hoje vi este poema... adoro!