As rendas e os tules tendem a entediar
Por isso vou até ao fundo, à porta aberta onde reluzem escadas
Que não sei onde vão dar
Trazem luz e um homem de bigode que periclita entre degraus
Por que é que o cão não ladra ou morde a anã?
Por que é que o pintor não deixa cair a paleta no veludo do vestido?
Ver num instante tudo em alvoroço, ah –
Braços a gesticular, pernas no ar, cabeças a rodar entre mãos e pés,
O espelho malogradamente partido
uma anã gigante em cima da mesa
que a roda das saias esconde
E os tapetes? Telas de Pollock.
Mas o mais espaventoso era o pintor pegar na tela
com a ajuda dos criados ou sem ela e especá-la à frente das meninas,
do cão, do espelho, da anã, da porta que dá para as escadas
de tudo. E… nada…
de repente, o esplendor –
um cavalete e a estrutura de madeira que sustenta a tela comprida e larga
Um Velásquez às avessas
Vazio e de costas ao léu
1 comentário:
Cecília o teu poema é muito interessante e não "tende a entediar" chamar-lhe-ia uma desconstrução de uma forma muito criativa.
A anã gigante acho que podia ser pintada pela Paula Rego e fico a imaginar um fantástico tapete de Pollock.
"Espaventaste" a tela e o pintor com a menina de pernas para o ar e quanto ao Velasquez viraste-o às avessas e deixaste-o vazio de costas ao léu.
É assim mesmo. Um furacão,a tempestade de "Feiticeiro de Oz", uma música colorida de um filme de Kusturica sobre o tema "As Meninas".
Obrigado e parabéns pelo poema. Volta a desconformar sintonias, sinfonias e outras melodias, dessa forma o blogue e o grupo fica mais rico, só há que editar na certeza que a poesia ( como eu a considero ) é também uma forma de arte e como dizia a nossa "prezada"
mestra o que se expõe é a obra e não o artista.
Fico á espera de mais poemas!
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