Tento empurrar-te de cima do poema
para não o estragar na emoção de ti:
olhos semi-cerrados, em precauções de tempo
a sonhá-lo de longe, todo livre sem ti.
Dele ausento os teus olhos, sorriso, boca, olhar:
tudo coisas de ti, mas coisas de partir...
E o meu alarme nasce: e se morreste aí,
no meio de chão sem texto que é ausente de ti?
E se já não respiras? Se eu não te vejo mais
por te querer empurrar, lírica de emoção?
E o meu pânico cresce: se tu não estiveres lá?
E se tu não estiveres onde o poema está?
Faço eroticamente respiração contigo:
primeiro um advérbio, depois um adjectivo,
depois um verso todo em emoção e juras.
E termino contigo em cima do poema,
presente indicativo, artigos às escuras.
Ana Luisa Amaral (1956-)
Coisas de Partir (1993)
1 comentário:
Apesar do nosso blog estar sempre em movimento, quem não tem saudades da partilha viva das sessões?
E já agora, mais perguntas:
Será que a nossa poetisa, a prezada, já regressou e bem de terras distantes?
Amanhã, alguns de nós vamos encontrar-nos em novas sessões?
E esse jantar, sai ou não sai? Por onde andará o Nuno, que não é o outro, que andava a tratar disso, mas parece meio desaparecido?
Faço estas perguntas todas aqui pois não consegui aderir a essa coisa internética que me parece que criaram, o google groups, será que todos se têm falado menos eu?
E por último, enfim, deixo-vos saborear este mais do que belissimo Coisas de Partir! Palavras para quê?
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