O mar é profundamente azul e profundamente poético. O azeite não é naturalmente poético mas pode ser, pelo menos, estético. Na sua capacidade de criação, na alquimia mágica da transformação de bagas em tempero, na arte ancestral que se faz com carinho e esmero. E se o azeite não é o alvo preferencial do lírico rabisco, devemos lembrar que é, ainda assim, um petisco. As sensações que inspira de gula, de prazer, de acabamento perfeito, invocam as pequenas subtilezas de que o ser humano é feito. O mar de Cesare Pavese é terreno, concreto, identificável, real… é um mar observado sob uma visão diagonal, mas é fruto tanto da natureza como do engenho humano, e tudo isto encerrado na imagem do oceano. O mar de Luís Miguel Nava, pelo contrário, é um mar não terreal… é irreal e imaginário; é de outra esfera, de outro enquadramento, é – por assim dizer – visto com outros olhos, com outro sentimento. É insondável, intangível. Mais profundo, mais azul talvez. Faz ponte entre o céu e a terra e de volta ao céu outra vez. É absoluto e brutal. Não tem uma gota de humano, é sobrenatural. É o abismo para onde olhamos um dia. É o sublime que nos transforma em ninharia. Perante ele nada se pode, a terra treme e o céu explode. No seu lugar um relâmpago… não um sorriso, ou um beijo, ou mesmo um poema. Nada que venha do homem, nenhuma teoria, nenhum teorema.
De alquimista e artesão a insignificante poeira do chão. Esta foi a viagem que aqui fez o homem, com as dúvidas, os desejos e as paixões que o consomem. Esta foi a relação que eu consegui encontrar, em dois pequenos poemas que afinal não falam do mar.
De alquimista e artesão a insignificante poeira do chão. Esta foi a viagem que aqui fez o homem, com as dúvidas, os desejos e as paixões que o consomem. Esta foi a relação que eu consegui encontrar, em dois pequenos poemas que afinal não falam do mar.
Raquel Patriarca
3 comentários:
Uma alquimia mágica em bagas de tempero,um lírico rabisco, um petisco... e um mar profundamente azul!
Trés...Trés... Trés bien!
muito bem! a transparência do mar e a opacidade do azeite... outra ideia. muito bem, essa observação de que os dois textos "afinal não falam do mar". pois não -- nomeiam-no só, e dele partem. basta.
Da 1ºsessão e relativamente ao nome do blogue, ficou-me na mente a palavra azeite, e "o mar parece azeite", fez-me pensar no azeite condimento-alimento, daí ter gostado da tua referência a "um petisco". Mas, atenção, gostei da tua reflexão na totalidade!
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