Podias ser tu a bater hoje
não o granizado na cúpula de ferro
branca melodia em pausas rítmicas.
podia ser o som leve de nós de dedos
ecoando pela sala, amortecendo no tapete
cor tela lã de Arraiolos no leve rufo
de tambor, reciclando as notícias tolas,
de gente tola em vidas tolas...
e de uma só vez despisse a noite toda,
te trouxesse toda à minha porta tola!
Saltaria do sofá, acrobacia de mola,
esquecido dos minutos vagos,
escoando metros largos,
no desejo insano de um trinco que
se abre, uma aresta que aparta e
desvenda a silhueta, o riso aberto,
puro realce transparente,
arco-íris cristal de velas acesas,
candelabro arte nova de gente
nos passos ténues de encosto de lados,
de faces, de lábios, saciando
os húmidos sonhos de vãs intensidades!
Podias ser tu do outro lado
mas não eras... nem tu nem nada...
para lá da porta, o silêncio...
e... só agora reparo um bago de uva
caído do cesto da vizinha
junto à porta
e quanto ao ruído surdo
era o trinco da outra que fechava!
4 comentários:
bonito, o desfecho :)
muito bonito o poema (:
gosto da ideia que transmite, da maneira como esta escrito e sobretudo da acção que o poema encerra, como uma mini historia poetica (:
ps : o bago de uva se calhar era das compras do sabado passado! foi muito engraçado vê-lo lá! um beijinho *
Gostei muito do poema. Gosto do que nos tem oferecido. Continue a partilhar connosco. Decididamente, este blog vai ficar na minha estante, junto dos livros de que eu mais gosto...
"Podias ser tu do outro lado
mas não eras... nem tu nem nada...
para lá da porta, o silêncio..."
Sempre esse silêncio a substituir "o som leve de nós de dedos", para lá da porta. E sem sombras de bagos de uva ou sementes de girassol...
Obrigada e até breve.
mais palavras para quê? se já nos faz viajar por bagos e rufos?
gostei imenso
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