segunda-feira, 5 de novembro de 2012

A recusa das imagens evidentes - um poema de Natália Correia

                                          Tanya Gramatykova

IV

Há noites que são feitas dos rneus braços
e um silêncio comum às violetas.
e há sete luas que são sete traços
de sete noites que nunca foram feitas.

Há noites que levamos à cintura
como um cinto de grandes borboletas.
E um risco a sangue na nossa carne escura
duma espada à bainha dum cometa.

Há noites que nos deixam para trás 
enrolados no nosso desencanto 
e cisnes brancos que só são iguais 
à mais longínqua onda do seu canto. 

Há noites que nos levam para onde 
o fantasma de nós fica mais perto;
e é sempre a nossa voz que nos responde 
e só o nosso nome estava certo. 

Há noites que são lírios e são feras 
e a nossa exactidão de rosa vil
reconcilia no frio das esferas
os astros que se olham de perfil.

Natália Correia

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