quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Assinalo para não repetir

Foi como se não tivesse aprendido que não volto, deixei rasgar-me, e levantei-me todos os dias por não querer sentir quase nada.
Por terra queria deixar a mágoa, queria também viver.
Icei as velas do que tinha, pareceu pouco. Mas houve quem me disse ter tudo, quem me ama. E que me perdoem ter sido eu cruel, tentarei depois resgatar alegria para a partilhar, pois, larguei-me a deriva. Lancei-me à tempestade.
E era, é, navegar sem destino no deserto do mar. Aí eu senti quase tudo, até não ter palavras. Os dias foram noites, as noites claras como dias.
Foi como fome. Da dor, essa lâmina, sobrou sofrer. Às vezes disse, Que puta de vida. Não foi bonito, por tudo que deixou de ser bonito. Também não houve qualquer distorção.
E das vezes que chegara a ânsia de dias claros, de terra firma sob os pés, vinham também palavras à cabeça, palavras que me ditaram mal. Tenho eu de afastar certas palavras todos os dias, estou completamente só. A solidão não faz bem, ela só pode ser uma passagem.
Tem de haver a serra onde viver, por onde andar descalça sobre chão de terra, sobre chão de erva. Fazer fogueira com as tábuas, do barco partido onde correm águas do mar.
E só estou eu, para as compor enquanto tento que passe a saudade do bater do meu coração tranquilo. Caí no logro por isso esta horrível parte da viagem, a saber que é melhor não estar ninguém.
Que quero eu chegar, meu corpo largar o barco, a nado alcançar a praia, subir a serra. Desejo o calor da fogueira, gente que festeja à volta. Honrar a terra, que sou terra, para depois adormecer e acordar abraçada a quem de ser generoso.
Já estou eu... partida, largada, fugida! Por sorte não volta. Nem sei se chegará, mas dá-me tempo para conseguir seguir comigo em frente. Ainda sinto a contrariedade de não querer que estas últimas palavras sejam verdade. Ainda estou no barco, e confio que esteja só e apenas por mais algum tempo.




("dou" este escrito ao Zémanel, claro!)

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