terça-feira, 10 de abril de 2012
os pássaros estão calados, não falaram esta tarde
Zhu YiYong
na descida da serra soa a compasso, uma campainha
na cabeça oca, não muito longe, na porta de uma rua.
um som metálico no vidro que inclina a paisagem, uma tontura –
as giestas estão cobertas de flores amarelas
resistem no meio das pedras,em muito pouca terra mas de boas raízes
e os pássaros estão calados, não falaram esta tarde.
o lilás das urzes mais forte que as glicínias
lembra de novo o teu rosto, os olhos e o brilho
como um poema essencial, uma música
a previsão certa de um signo –
e a estrada inclina nas curvas do lado esquerdo
que soam agora súbitas na intensidade dupla
por detrás dos óculos escuros
por detrás das nuvens junto do invisível
antes do nascer da lua –
a lua, a lua branca
como aquela faia de tronco despido em direcção ao rio
como aquela cabana no meio dos pinheiros por cima das carumas
como aquelas magnólias de uma árvore sem folhas enfeitando um muro
um muro alto e uma água fluida –
um muro alto e uma água fluida
como as memórias mais antigas:
dedos inquietos e torcidos
os cabelos,as nucas distendidas, o desvanecimento idêntico
a noite no segredo de um areal preenchido
o ruído dos búzios nas ondas que chegavam
nas ondas que partiam -
tenho o coração apertado como um punho a segurar palavras
para que não fujam -
os poemas que te escrevo são o símbolo
o cálice e o néctar de um vinho maduro
poemas que despem poemas e que se juntam
para que fiquem mais fortes
para que fiquem mais puros -
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