Asas dobradas no meu jardim
Anjos caídos descrentes do céu
Parecem mudos, vestidos de breu
Inertes, brancos de um cal de morte
Jazem sem sangue ainda que vivos
Os olhos brilhantes sabem de cor o azul
O desconhecido da terra batida
A humana forma de sentir o chão
Em misto de angústia e de ilusão.
Quieto o silêncio, foge ao vago verbo
Tão vero, tão certo, tosco e insincero.
Viagem ao centro da dúvida exacta
Pura, sem corpo, de face abstracta.
Cortam-se a xizato as asas e o sol
Recortam-se as estrelas, decantam-se as lágrimas
Desdobram-se as mágoas com a fita métrica
Embrulha-se o medo em papel celofane
Um vestido novo e um longo arame
Onde na vertigem se dá mais passo
O céu lá tão alto.
É um caminhar sem asas na terra.
O levante erecto do corpo deitado.
Eis que ao percorrer o caminho incerto
As asas recrescem e o céu já perto
Sussurra ao ouvido das estrelas bebé
Já podem nascer, o novo já é.
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