sábado, 25 de fevereiro de 2012

a luz de Turner


Turner

a luz de Turner persegue a sombra das montanhas
e ilumina as areias como um embrião de luz
um lugar de gineceu, um lugar feminino, terno
fios de filigranas sobre os últimos dias de inverno
do mês mais pequeno, Fevereiro;
raios amarelos
de um ouro que se esconde e tarda uma noite inteira –

o azul é ténue, o sol é subtil e apreende-se, fecha-se no quadro de Turner.

agora é noite cerrada. há algum silêncio.
debruço-me na suavidade branca do teu rosto e rejeito todas as palavras rudes
porque não fazem parte, da natureza, do estado de alma
da aura que me sopra das aguarelas pousadas sobre o centro, o nosso centro
e inclino-me como um casco de pêndulo
ora ao lado esquerdo ora numa mistura de cabelos
junto às orelhas, do outro lado
segredando alguns versos, versos que invento
repetindo as ondas, as ondas como sempre
e apertando um pouco mais a noite
na linha aberta dos ombros
e na direcção mais sossegada do sonho
de corpos calados e quatro mãos brancas –


josé ferreira 24 fevereiro 2012

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