quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Alguém pensou que nascer é felicidade? - um poema de Walt Withman




Alguém pensou que nascer é felicidade?
Apresso-me a informar, a ele ou a ela, que o é tanto como morrer, e eu sei que é assim.

Morro com os moribundos e nasço com um bébé que foi lavado há pouco, e não existo apenas entre o meu chapéu e as minhas botas,
Observo os vários objectos, não há dois iguais e todos são bons,
A Terra é boa e boas as estrelas, e tudo à sua volta é bom também.

Eu não sou um mundo nem o que existe à sua volta,
Sou um camarada e um companheiro das pessoas, todas são imortais e insondáveis como eu próprio,
(Elas não sabem como são imortais, mas eu sei.)

Cada espécie para si e pra o que lhe é prório, para mim o homem e a mulher são meus,
Para mim os que foram rapazes e que amam as mulheres,
Para mim o homem que é altivo e que sente como dói o que é ser desprezado,
Para mim a amada e a solteirona, para mim as mães e as mães das mães,
Para mim os lábios que sorriram, os olhos que derramaram lágrimas,
Para mim as crianças e os que geram as crianças.

Despe-te! para mim não és culpado nem decrépito nem posto de parte,
Vejo através do pano fino e do algodão fino, quer queiras ou não,
E ando em volta, persistente, ávido, incansável e nada pode afastar-me.

Walt Whitman, As folhas da Erva, Relógio d’Água, 2010

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