sábado, 17 de dezembro de 2011
por vezes a chave do sonho
Fotografia de Annie Leibovitz
a tua hipnose de alma vê o vazio
mas há um outro lugar, a suavidade distendida –
a imperfeição das margens não pode condicionar os rios
e as aves intermináveis não interrompem os cursos livres,
voam por sobre a barragem abrupta
que suspende o leito
e bicam incessantes a saída –
não permaneças nas vestes de tecidos pesados,
é triste e mudo o espelho deitado, horizontal sob a lua,
sem a dupla característica, sem a envoltura de um olhar vertical,
omisso no frente a frente que ilumina olhos e lança braços como lenhos
- a árvore magnífica, grande –
as palavras são uma armadura ronceira, pesada, imperfeita,
em algumas batalhas movem-se sem jeito.
as palavras perdem-se no ruído de rotinas
não se escutam, nem sempre dizem
e reinventam-se por vezes no almofariz de um alquimista
como um cálice de persistente loucura, mas boa e cheia de sentido -
as palavras batem cruamente nos desenhos de um muro, por vezes não entram
no som oco do tijolo, na porta, na fechadura
e deformam-se e misturam a incompreensão dos sinos
mas por vezes como chaves dirigidas, têm boca e têm dentes
e rodam certas no cronómetro do tempo
provocam a síncope na anacronia que colocava anteriormente
um aro em volta do espelho como uma redoma de espinhos
e a porta abre no primeiro lugar, no suave distendido
num cimo do monte
onde os pés podem ser mãos,
despentear os cabelos e tapar os ouvidos
um eco completo que inunda as planícies -
josé ferreira 17 dezembro 2011
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