segunda-feira, 28 de novembro de 2011

A rua fragmentada


David Hockney

Os passeios são fragmentos de vidro, sensíveis.
O verde invade a moldura, corre uma brisa.
Não há o movimento brusco da rua, quase uma fotografia
Ou fotografias de pequenos espaços que se autonomizam,
Se atomizam na diferença.
Voltamos sempre a este ponto de partida, como o ovo.
A casca que não pode ser cramelizada em demasia.
A auscultação dentro, de batimentos, enche cada espaço escondido
E as manhãs de domingo são por vezes frias –
Estou calmo, tranquilo, não há redes nem teias no caminho
Aqueles ramos de palavras reanimaram a suavidade.
Não há fúria, desengano, desistência ou desertos de destino.
Não se levantam as fogueiras fátuas de esconderijos.
O imponderável de um segredo pode ser o lugar mais próximo.
Há uma meditação sobre a ausência e o silêncio.
Os ramos de palavras foram bálsamo,
A posologia intangível para o renovar das brisas.
Agradeço-te esse fragmento que alimenta a manhã,
O seu tamanho original de pele e braço físico, material
Por detrás da janela
Na rua fragmentada e vazia -

Sinto-te, invisível -


José ferreira 28 novembro 2011

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