segunda-feira, 3 de outubro de 2011
Pequeno Canto do Amigo - um poema inédito de Ana Luísa Amaral
Ay luz, ay luz do céu antigo,
não me trazeis novas do meu amigo
que em vós morreu tão cedo?
Novas nenhumas,
minha amiga,
que a luz desta cantiga
é agora como o vosso amigo
Ay tempo, ay tempo tão parado,
que parastes ao ver o meu amigo,
que novas lhe haveis dado?
Novas nenhumas,
minha amiga,
que o tempo da cantiga
é agora como o vosso amigo
Ay mar, ay mar tão escuro e fundo,
que convosco ficou o meu amigo,
não me dais curtas novas desse mundo?
Novas nenhumas,
nenhumas, minha amiga,
que a luz, o tempo e o mar desta cantiga
são agora como o vosso amigo:
não têm som, nem cor, nem hora,
só paisagem de fora
como em quadro maior
é a moldura
Ay, canto, ay canto tão parado,
mesmo que o tempo e o mar
não iluminem nada,
deixai-me pelo menos
ficar do meu amigo
algo lembrado
Só se for, minha amiga,
um instante de luz:
que se abrande a cantiga
fiquem lentas as horas
e os sons
E como o tempo e a luz
lhe foram forma,
dele fique o cuidado
Ay canto em canto desolado,
é fraco mantimento esse cuidado,
pois é sem carne ou pele,
e eu queria o meu amigo
devolvido
Não me chega este canto,
cantando o seu cuidado
Bastava, em vez do canto,
o meu amigo, ele:
gentil e imperfeito
E a sua pele –
Ana Luísa Amaral
P.S. Este poema é dedicado ao seu grande e saudoso amigo Paulo Eduardo Carvalho, ver mais aqui
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