terça-feira, 18 de outubro de 2011
As palavras esperam o sono - um poema de António Ramos Rosa
As palavras esperam o sono
e a música do sangue sobre as pedras corre
a primeira treva surge
o primeiro não a primeira quebra
A terra em teus braços é grande
o teu centro desenvolve-se como um ouvido
a noite cresce uma estrela vive
uma respiração na sombra o calor das árvores
Há um olhar que entra pelas paredes da terra
sem lâmpadas cresce esta luz de sombra
começo a entender o silêncio sem tempo
a torre extática que se alarga
A plenitude animal é o interior de uma boca
um grande orvalho puro como um olhar
Deslizo no teu dorso sou a mão do teu seio
sou o teu lábio e a coxa da tua coxa
sou nos teus dedos toda a redondez do meu corpo
sou a sombra que conhece a luz que a submerge
A luz que sobe entre
as gargantas agrestes
deste cair na treva
abre as vertentes onde
a água cai sem tempo
António Ramos Rosa
(Publico este poema como homenagem ao poeta que admiro e que ontem completou 87 anos)
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1 comentário:
há oitenta e sete anos começou a ser imortal.
(aqui devolvo a visita - eu que, como ele, "espero ser aberto por uma palavra")
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