segunda-feira, 5 de setembro de 2011

uma história demasiado sensível




uma história demasiado sensível
invulgar surpreendente mas não sei se digo
hesito entre um momento de espanto
e o segredo, a permanência circular da história
que oscila nas linhas finas da mente
dentro de quartos inpovoados, silenciosos, indecisos
onde livros e pós misturam rostos e cabelos
mãos e seios, lábios conseguidos e milhares de desejos -

uma história que não se supõe possível - uma irrealidade
uma música de Paganini, violino, violinos
uma madrugada de princípio de Outono, húmida
a névoa translúcida, a dedução imprecisa das formas -

mesmo nas cidades que se encontram sempre iluminadas
e vivem em diversas intensidades: noite madrugada luz
sempre me disseram que nas horas mais mortas
tivesse mil cuidados, os olhos abertos, na frente e nas costas
e delinear as sombras, tentar entendê-las
à distância necessária, como amigas
ou de sinal contrário como luta ou fuga -

hesito, não sei se digo, hesito
e depois nem sei se será suficiente na mudança
os teus olhos estão fixos na obsessão de uma borbulha
na palma por onde correm linhas de quiromancia, a vida -
hesito na minha inocência e hesitas na mais uma oportunidade
ou nas recorrentes palavras afogadas, sem sílabas -

hesitas
impaciente, preocupada como as flores e os frutos
perante as intempéries fora de época
hesitas na conclusão e circulas centrípeta
em vários centros e motivos que possam esclarecer
o inìcio, o princípio, o clarear activo de um enredo
o grave e o agudo, o normal e o sustenido, o meio tom
a tempestade de ruídos -

e há razão no teu sentir, passaram três anos -
muito tempo, em três anos cresce a barriga
as crianças apertam os dedos adultos, cedem ao choro
ao riso, gatinham o chão, sopram bolas de sabão
e gritam sequências: números cores letras -
há razão no teu sentir -

hesito, não sei se digo, hesito -

uma história surpreendente como as de Aladino
e um tapete voador por desertos amarelos
e meias luas de mesquitas em histórias de orientes:
final de verão, madrugada, bateu a porta
saiu na primeira luz da neblina;
dirigiu-se ao rio, uma rua inclinada, seis horas
corria um frio, os passos ouviam-se, um eco contínuo
levava um pólo azul e umas calças de bombazine
apertadas na cintura devido a excessos
e justas nas barrigas das pernas, usava sapatilhas.

o pólo era de manga comprida
parou em frente de uma porta magenta de trinco ruivo
e patilha antiga na cor de ferrugem.
uma nuvem branca escondia a paragem de autocarro
a cor baça de janelas de alumínio, os vidros aramados de uma tabacaria.
se olhasse apenas a porta magenta no seu ar deslocado
poderia recuar a um castelo medieval, uma ponte levadiça
malhas e espadas, sentinelas nas ameias, templários e gentios -

a tinta era descontínua e rareava a espaços
sem perder a substância da diferença;
uma cor alta a terminar num arco redondo -

estás pálida, que estúpido, queres umas águas ?
agora as de Vidago são de plástico e abertura fácil.
que estúpido, não queres saber da história, do seu sentido
se tem candelabros ou néons de boutique, cristais ou plásticos -

hesitas, usas os dedos que são teus nas duas mãos
e rodas um anel largo de pedra polida
na cor negra de uma antiga tulipa
em todas as direcções, como se fosse uma bandeira difícil
um perigo, uma defesa ténue de seara entre sombra e brilho
mas se os olhos se prendem nesse volteio
repito, obssessivo, precisas soltar o dique
deixar cair essas palavras do alto dessa montanha
deixá-las cair, perder altura, naturais e sinceras
e então afundo-me no fumo que pressinto
brasas perdendo fogo, a fogueira exinta;
calo-me com a minha história de nevoeiros
cavaleiros e moinhos, uma outra altura -

coloca a tua mão direita voltada para cima
e deixa que sinta a tua pele
e não me leias a sina
qualquer que seja o sentido, não feches os lábios
fala comigo -

josé ferreira 4 Setembro 2011




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