segunda-feira, 22 de agosto de 2011
um poema de António Ramos Rosa
Henri Matisse 1917
Este poema para ti é decerto uma surpresa ou talvez a melodia
que vem de tão longe e de tão perto
porque vem de ti do delicado tumulto das tuas vibrações
que são como espirais instantâneas que parecem ir dispersar-se
mas mantêm a delicadeza límpida das suas linhas.
Elas são a relação que se inebria na vertigem dos limites
e te oferecem o mundo como o campo da tua identidade aberta.
Tu és um corpo de meandros em que um sangue solar flui
e como danças dentro de ti as tuas linhas são evidências
imprevisíveis e nunca te deixas fechar mais do que um segundo
porque logo te abres como um leque de cores vibrantes que reúne
e dispersa porque é a relação do universo com a harmonia dinâmica
da variedade elementar que é a matéria da unidade universal.
Se tu te transcendes em cada movimento
é porque tu ascendes constantemente como se a tua coluna fosse
o vento vertical como um enxame de pássaros vertiginosos.
Se tu és quem és é porque a luz no teu corpo voa e vibra
e o teu olhar respira a transparência de um jardim
e a tua boca pronuncia as palavras que são chamas de vento
e são chamas do mar
mas também têm o peso das pedras intactas.
António Ramos Rosa
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