quarta-feira, 31 de agosto de 2011
fugir, fugir ainda
Edward Hopper
e depois a multidão
as vozes altas e a dificuldade de olhar o céu,
desviar os olhos, impossível, olhar em frente,
muitos, os pés afundam -
fugir, fugir ainda
para um campo de macieiras, o pomar crescido,
os frutos; golden, bravo, starking, gala, fuji;
as diversas qualidades -
e depois a multidão
a festa, as mesas, os fatos, os vestidos de cetim,
véus, lenços largos, os aromas, a maquilhagem,
o pormenor dos lábios, vermelhos ou suaves,
as pálpebras decoradas de brilhantes -
fugir, fugir ainda
para a sombra dos pinheiros,
as menos dolorosas agulhas, rodopiando,
sem picos nem mossas de palavras vãs e sem graça -
as memórias dos outros cansam quando temos a alma pesada;
a ausência e a falha sísmica, uma antena partida nas ondas da rádio,
ruído, ruído, ruído; faltas-me -
cansado, do colarinho branco, apertado, sem concha
sem pérola -
fugir, fugir ainda
para a margem fluida, o correr do rio;
voando nas águas lisas
em direcção ao não limite, o caminho inseguro,
a foz distante -
e depois a multidão
como serpente e flauta, pêndulo,
relógio e tempo, música de domingo, fogo de artificio
relâmpagos humanizados, canas caídas, gritos, tão bonito, dizem -
fugir, fugir ainda
mesmo que a selva ou a floresta, os lobos,
um exército de Hunos, todos os perigos -
faltas-me
princesa de infinitos;
risco, desordem, possibilidade, segredo,
essência, semente -
e os teus dedos num quadro de infância
apagando a nuvem branca
os erros de giz -
josé ferreira 31 de Agosto 2011
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