sexta-feira, 22 de julho de 2011

tábuas longas e tectos de estuque


William A. Bouguereau (1825-1905)

escrevo-te na casa grande de tectos de estuque e tábuas longas
brilha uma luz que elimina a varanda e lança raios antes amarelos agora mel
flui uma cor patine tão única tão antiga -

inútil a lareira e o tempo assume a temperatura alta
época pouco firme dando lugar ao arrepio; a suspeita o ciúme
o impenetrável espaço do círculo rodopiando rodopiando centrípeto -

nas palavras que o vento assina sopram assobios
veementes magoados como se merecidos
lembram as tempestades no pacífico -

todos os mares têm os seus dias ferozes e macios
imagino a laranja dividida o sumo perdido
os trópicos sem oposto a inutilidade do equador
o sol sem a lua o fim do crepúsculo;
seria sem graça a borboleta que de um ao outro lado
modifica o planeta -

a arte, a literatura, as cenas de um teatro são faúlhas
mas não são falsas nem corruptas
não são lâminas nem pedras de judas
reflectem almas e pensamentos nem sempre puros -

afundo-me na carícia -


José Ferreira 22 Julho 2011

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