sexta-feira, 1 de julho de 2011
Fragmento X - A espera
Matthias Schriefl - © by: ACT / Gerhard Richter
"...o acto I; está cheio de suposições: e se tivesse havido um mal-entendido quanto à hora ou lugar? Tento recordar-me do momento em que se combinou o encontro, dos pormenores que foram acordados. Que fazer (angústia de acção)? Mudar de café? Telefonar? E se o outro chegar durante estas ausências? Não me vendo, pode partir de novo, etc. O acto II é o da cólera; dirijo violentas censuras ao ausente: " Apesar de tudo, ele(ela) bem teria podido..." "Ele (ela) bem sabe..." Ah! se ela (ele) ali estivesse, para poder censurá-lo de ali não estar! No acto III, atinjo (obtenho?) a angústia pura: a do abandono; acabo de passar, num segundo, da ausência à morte; o outro está como morto: explosão de luto: estou interiormente lívido. Assim é a peça; pode ser encurtada pela chegada do outro; se chega durante o acto II, temos uma "cena"; se chega durante o acto III, é o reconhecimento, a acção de graças: respiro profundamente, qual Pelléas a sair do subterrâneo, reencontrando a vida, o perfume das rosas.
( A angústia da espera não é continuamente violenta; tem os seus momentos mornos; espero e tudo o que rodeia a minha espera está salpicado de irrealidade: no café, vejo os outros que entram, cavaqueiam, gracejam, lêem tranquilamente: esses não esperam)
A espera é um encantamento: recebi a ordem de não me mexer."
Roland Barthes " Fragmentos de um discurso amoroso " Ed. 70
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