David Hockney
As lentas nuvens fazem sono,
O céu azul faz bom dormir.
Bóio, num íntimo abandono,
À tona de me não sentir.
E é suave, como um correr de água,
O sentir que não sou alguém.
Não sou capaz de gozo ou mágoa.
Minha alma é aquilo que não tem.
Que bom, à margem do ribeiro
Saber que é ele que vai indo…
E eu? Vou indo dianteiro
No som inútil e infindo.
Fernando Pessoa 25.12.1931
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