quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
não sei porque saíste
Edouard Boubat
disse
faltavam ainda milhares de gestos
não sei porque saíste da frente do espelho.
- pousou os óculos e acendeu um isqueiro
naquele jeito religioso de um nirvana no meio de um concerto
como era possível ser o único no meio da melodia -
não sei porque escondeste esse olhar de sereia
de afundar navios, a pique, agora, quando
desaprendi a sobrevivência nua de ser ilha.
- foi obrigado a pousar a caneta inclinada de bolina
enquanto o gato lhe subia o colo
arredondava o dorso numa curva da espinha
e no olhar suplicante de uma festa
acendia o seu modo de trabalhar afectos
e exigia a repetição contínua
pelo meio da cabeça, esticando as orelhas -
não sei porque recusaste o devaneio das luas escondidas
o jogo erotizado das cortinas.
- o gato pequeno mesclado de tigre
miou o desespero de poder viajar o ombro
e descer de novo ao colo na tremura dolente -
como conclusão que não surpreende
o poeta desistiu provisoriamente do poema
- enquanto insaciável afagava o pêlo -
e o gato de olhar intermitente
simbolizou ao mesmo tempo o desejo e o recalcamento
enviando sinais de fogo a cada novo movimento
da pele ao deslizar os dedos -
José Ferreira 3Fev2011
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