terça-feira, 7 de dezembro de 2010
como explicar-te a noite sem corpo, o véu escuro
Gustave Caillebotte "Dia de chuva" 1877
como explicar-te a noite sem corpo, o véu escuro
o estado exausto que convoca as estrelas
de pulsos apertados, olhos de círio, pés líquidos
e uma música de liszt nos éteres dispersos;
as tuas mãos flutuantes nas cordas de um piano
perdoa-me o silêncio, esta lágrima de sonho
a gota impossível na muda garganta rubra
onde guardo seiscentas palavras e o musgo macio
perdoa-me, não me julgues -
quando nos cruzarmos numa esquina de Lisboa
desarmados pela hipnose das pupilas, conto-te
conto-te dos gladíolos, dos lírios, das tulipas decididas
e dos caminhos de asas hirtas em voos nocturnos
planando como auras desertas nestes rostos fugidios
onde as sombras são as linhas descontínuas -
conto-te, numa rua de Lisboa -
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