sábado, 6 de novembro de 2010

sintoma


Chagall " Adão e Eva "

a explicação célere do universo não revelará estrelas.
por isso bela a filosofia e a sua procedência de segredos.

há uma fábula feita de palavras que encanta
quando os pássaros falam e as nuvens trémulas de cinzas
se sentam a dar conselhos, objectivos de portas brancas
sem sombras pálidas nem lugares indomáveis.
duas a duas as linhas de um tracejado;
traço intervalo traço e na distância traço intervalo traço
olhos fechados e almas cobertas de folhas.
quase se sente o horizonte habitando o deserto
transformado num mar largo
onde inquieto balouça
um barco e uma imagem;
à ré, à proa , batendo de um lado, inclinando no próximo
nódoas negras de tábuas, tropeços nas cordas soltas
à direita, à esquerda, querendo saber qual a realidade
de mãos abertas e nós desfiados dos dedos.


gémeos batimentos leves nos vidros da ilusão .
o tempo ganha um lugar silente e o tempo pára.
pode ser uma hora ou um segundo
a pequena picada de vespa e a vermelhidão
o agudo sintoma expansivo
uma gota engolida como um comprimido que adormece
miligramas de seratonina como morangos de Viena
dando voltas pelos labirintos como um passeio de bicicletas
sem paredes , sem espelhos gastos de diferenças
que esticam os olhos e engordam as formas.
transforma-se em grande a pequena gota
tão real, que leva à sua volta toda a chuva miudinha
a um belíssimo lugar de desejo, guardião de sono
ao tocar indelével o desconhecido -

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