sexta-feira, 17 de setembro de 2010

o telescópio


Magritte "o telescópio" 1963


discordo da verdade inútil que une as plurisuperfícies
onde as ondas se animam de reversos e impossibilidades
sempre iguais iguais na negação do amor.

ao tactear as nervuras opostas das folhas luminosas
sei de todas as dificuldades no caminho de glórias
ou precipício, na simbologia urgente dos alimentos;
sucos nutrientes, oxigénios e combustões lentas
a fotosíntese e os negativos de esqueletos brancos.

sei de todas as exigências, excessos de arte e génio
sem lugar a técnicas ambulantes.
desta forma admito as nuvens e as chuvas
o arranhão e a fractura, o flagelo agudo, a noite e a lua
esta fragilidade, mútua e indisfarçável.

plantar, plantar um jacarandá num jardim qualquer
onde haja um banco de tábuas gastas gastas
uma esplanada sobre a tardia inocência e o crescimento
de uma árvore de leveza; flores ténues, folhas brandas

e dois olhares redondos de permanência
como as pombas

de pés vermelhos quando pousam –

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