uma baleia não tem estilo. o mar precisa de um toque de pescoço abandonado como o lábio precisa do fumo de uma página e o estado lateral da coxa de um traço alto carregado. não pode ser água a correr, só uma estreita película de margem que alinha postiça ligeiramente ao lado do desenho. o estilo é o oposto de um rio. um quadro urbano que oscila drogado. pode ser uma mão aberta se for lançada em pedra dramática e o século lhe cair bem mas nunca uma linha espontânea de bicho a escorrer gordura no equador. uma carruagem de metro, sem olhos lá dentro, só flash e cabelos parados, ora digitais ora retro milenares a lembrar o design inatingível das árvores. o prego do quadro range à noite e o som faz lembrar o do esguicho de uma baleia que se aproxima. baleias gordas, velhas, de bata branca e papel de rascunho para pintar maiorias. às vezes o estilo espreita e vê quadros a baloiçar, o vento e os pregos, e cose-se, com uma linha de detalhe, pelo céu da boca, pela espinha do meio das pernas à cara à nuca e um nó. o nó de uma linha individual lançada precariamente ao mar para suster o sublime estrondo da baleia.
2 comentários:
Olá Joana
Que bom ler teus escritos de poesia.
Gostei especialmente da última frase, mas como acho injusto chamar-lhe simplesmente frase, prefiro chamar, conclusivos versos.
fica bem,
abraço
Soberbo, Joana! Adorei este texto! Precioso! Inteiro! Fantástico! Irónico e Enorme!
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