quinta-feira, 15 de julho de 2010

sobre a dor e o esquecimento


fotografia retirada da internet


o enorme grito do teu desespero
rompeu-me por dentro.
desceram os pássaros caíram as árvores.

os jardins despediram as flores.
um rodado negro de camião envolveu-as no opaco;
chão duro , de fósseis, de organismos devastadores.

um baraço de cordame circulou a dor
na roda do corpo como um bailado interminável;
a cabeça inclinada um triângulo obtuso no joelho
a giratória zonza sem possibilidade de paragem
o retorno o voltar atrás.

a tua dor imobiliza e prende as minhas lágrimas
como a chuva de um regador lento no interior.
porquê a chuva se lá fora o sol? Porquê?

queria ser Deus e ter o poder do esquecimento
para curar não só a dor
como a memória de
a doença o sofrimento

levar-te de volta ao baloiço
de pés ao alto cabelo ao vento e de frente
apenas uma arriba o grande mar
e em cada volta de azul crescerem asas

o nascimento de uma grande liberdade
e puderes voar voar voar -

2 comentários:

Anabela Couto Brasinha disse...

Olá José, vou lendo a correr os versos largados no OMPA,
e vou gostanto deles.
Nestes ou destes versos pensei,
como se volta se nos esquecemos, esquecendo voltamos a repetir o passado, ou de certa forma alguma coisa dele. Por outro lado, do que temos saudades, também de alguma maneira tentar repetir.
Abraço

Elza disse...

Olá José, o poema é todo dor. E no fim o sonho de uma esperança que é só isso mesmo, sonho. E, no entanto, a mim, o esquecimento às vezes assusta-me tanto ou mais do que a dor. Porque a memória, ainda que sofrida, é a história que tem todas as partes de mim e sem a qual eu me sentiria perdida. Beijinho Elza e a ver se sou mais assidua daqui em diante.