quarta-feira, 28 de abril de 2010
A tradição de estar triste
Da perspectiva da morte
a vida é como se nunca
tivesse havido.
É isto que nos ensinam na escola
dos cépticos:
a morte dispensa planos
e apresentações.
A morte tem os horários parecidos
com os nossos e os corolários
mergulhados na desfeita.
A morte é arte de crianças hipersones
uma greve de fantasmas vestidos a preceito
para nenhum dia seguinte nem depois.
A vida fabrica apenas paliativos genéricos
e soluções onde a nitidez é corrompida
pelo hálito quente da especulação.
Também simpósios onde a tarde acentua
a tradição de estar triste
sem pára-quedas nem efeitos laterais
manhãs previamente mordidas
mesmo quando as frutas são as mesmas
o sabor um dia pode revoltar-se
a morte deixar de ser fiel
tornar-se tudo de repente
num lugar barato e habitável.
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5 comentários:
Olá
gostei de todos os versos,
e fiquei a pensar nos últimos, mas mais neste,
"a morte" a "deixar de ser fiel"
fui lendo outras coisas para cima,
e lembrei-me,
há momentos em que não importaria morrer
como se já tivesse sido tudo
e no entanto, por não importar
viver é tão urgente
Abraço
Olá André
interessante a morte como permanência numa tradição de estar triste e que se revolta e cria a infidelidade de os lugares serem baratos e habitaveis e como tal agradável o sabor do dia.
e a morte é sempre a consequência indesejável de haver vida. contrariamente aquilo que o dia nos pode transportar (surpresa) a morte é um lugar fechado frio e gasto sem o condimento essencial do futuro.
Abraço
Uma morte 'greve de fantasmas vestidos a preceito para nenhum dia seguinte nem depois' e 'de uma vida que fabrica apenas paliativos genéricos e soluções onde a nitidez é corrompida'. Um dia a tradição é mesmo mordida e a morte deixa de ser fiel. O hábito muda e fica tudo habitável. Gostei muito.
OLá André
Gostei muito desta sentença de morte, tédio e tristeza que faz parte em algum grau da existência humana e que nos faz contrastar e saborear as antinomias da vida, do novo e da alegria numa eterna contradição entre o todo e o nada, o vazio e a plenitude ... o ser e o não ser. Gostei muito.
Liliana
"manhãs previamente mordidas/
mesmo quando as frutas são as mesmas" - nestes versos pressinto a revolta inevitável do sabor... Gostei muito.
Fiquei com a esperança de que uma destas "manhãs", teremos revolução. E já não é abril!
Abraço e até breve.
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