quinta-feira, 8 de abril de 2010

Normas de funcionamento de um hospital




1. Num hospital para amantes, os doentes nunca estão acamados - nem há camas sequer que lhes sirva - porque é precisamente do hábito da cama que eles se querem ver livres. E inocentes. Para sempre.

2. A austera e preferível posição vertical favorece a morte da morte que se diz reduzida, mas que os domina, assim como inicia o fim dos festejos das larvas da libido e sugere o voto em branco hormonal.

3. Não há qualquer espécie de internamento, senão das fantasias, umas convocadas ao coma, outras sujeitas à combustão.

4. Está inteiramente proibido o uso e o consumo de corpos correlativos e mesmo a amizade e a afeição são vigiadas continuamente da eficácia.

5. O hospital possui pelo menos um médico por cada amante.
E todos os benefícios da floresta pragmática de um paraíso norte-europeu:

6. Animadores pobres de serão. Génios a quem o amor causou claudicância e varizes. Gente que auxilia na cura contra aquilo que sente, mas que recebe uma enorme quantia por isso. Personagens primordiais. E enfermeiros especializados na ferida áfona que Derrida - um dos doentes externados aqui – julgava saber de ti de cor, logo quando a noite se suicida.

7. A abstinência sexual é ensinada aos gritos, através de altifalantes minuciosamente instalados nos corredores da má-fé.

8. As propriedades esfuziantes da nudez são extraídas por intermédio de drogas que prejudicam seriamente a representação do outro em toda a sua coerência erótica e simetria.

9. Todos os utentes têm de ter sempre o corpo coberto de analgesia e desaparição.

1 comentário:

josé ferreira disse...

Olá André gostei muito deste particular hospital em versos de "coerência erótica e simetria" e em que "9. Todos os utentes têm sempre o corpo coberto de analgesia desaparição."

Abraço