Não temas
Não temas que esse medo também é meu
Tremem os joelhos e os ventrículos marcham rápido no breu
Não sinto os dedos nesta parestesia de dor
Não sinto o espaço
Pára o tempo em mim numa paralisia de ausência
Não temas
Não temas que este meu medo é um ladrão de medos
Rouba os medos alheios num egoísmo isolado a preto e branco
Não temas
Não temas que o medo de tudo te priva
do beijo e da queda
Resta-te o nada que te embrulha e preenche
Não temas
Não temas que esse teu medo também é meu.
1 comentário:
Olá liliana
neste poema que ali produziste de improviso no canto de um sofá tocaste o medo na forma de um alívio: "não temas" porque esse medo "de tudo te priva do beijo e da queda" e esse mesmo medo "esse teu medo que também é meu" ao ser dividido torna-se mais leve a quem o sofre e no eu poético se junta a um outro medo maior e mais forte "um ladrão de medos" que "rouba os medos alheios num egoísmo isolado a preto e branco".
gostei muito porque quase como numa catarse fica essa noção real que nos medos dos outros acrescentamos os nossos e levantamos uma dúvida de copo cheio até ao dia em que passamos a compartir os nossos medos e esperamos o alívio numa outra voz que diga "Nada temas" "Nada temas porque esse teu medo também é meu"
Abraço
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