sexta-feira, 26 de março de 2010

A falling love (epílogo e teorema)





I

O amor não é como Roma:
demora a cair.
Por isso, a volúpia é lenta
e o poema não nos ensina
o pára-quedas a tempo
nem que a queda
também ela é um objecto
passível de cair.

Demoradamente.

II

Porque repara: pode-se fazer tudo com o amor a cair.
Pode-se, inclusive, fazer amor com o amor a cair.

A neve, por exemplo, imita o amor a cair
como ninguém. Mas carece do pânico
que por vezes o amor a cair sugere
na sua nudez improvisada pelos gritos

do amor, diz-se por aí muita porcaria
quanto mais a cair.


III

E digo mais:
O amor a cair é um assunto
para ser discutido seriamente
no parlamento da tua indiferença.

IV

Foi ainda a tua falta de visão
teleológica da história
deste amor a cair
que fez com o amor parasse
de cair de vez
e caisse em si,
finalmente.

Ora, o amor pode cair
em todos os lados
menos em si.

1 comentário:

josé ferreira disse...

Olá André
gostei desta queda de amor na imitação da neve, leve, sem o peso de Roma, trágica, sem pára-quedas.

Abraço