terça-feira, 16 de março de 2010
Canção da mulher descalça
A imagem lendária de uma mulher descalça
não porque as mãos estejam sempre descalças
mas porque os pés são as mãos das nossas desinibições.
A cidade não está preparada para a leveza
que uma mulher desempenha descalça
e oferece a sua espada à doença simpática
do amor.
Só os pobres e os pássaros
e as ambulâncias a vêem passar
porque nunca cicatrizam onde
a necessidade vende melhor.
Na perspectiva da cidade dos homens
uma mulher descalça põe a morte em perigo
e a vida depois.
Os homens ignoram, pelo menos três vezes por dia,
esta erótica crepuscular.
E vão para o Café e discutem gases
política póstuma e cerveja com futebol.
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2 comentários:
Olá André
Sê bem-vindo a este espaço de poesia.
esta "mulher descalça" fala de cicatrizes, indiferenças e pecados de uma cidade de homens na forma interventiva de um poema.
Gostei muito.
Abraço
Obrigado pelas palavras, José, e pela recepção calorosa.
Um poema é, de facto, um lugar de sucessivas intervenções. A sua criação é perpetuada pelas leituras que se vão formando em seu redor. Talvez como os passos e as pégadas deixadas pela mulher descalça no âmbito da cidade dos homens.
Um abraço
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