sábado, 13 de fevereiro de 2010

Como podemos esperar


Sopretán Doménech "nascimento de uma sereia" 1993


Como podemos esperar.
Aguardar o que nossas mãos possam reter.
Uma palavra. O olhar cúmplice. Se as coisas
têm já o estado do vento
o que nas ruas fica das vozes ao fim do dia.

Aguardar mais aguardar nada
quanto mais se repete uma palavra
«estou sentado virado para a parede desta casa»
baixo, mais baixo ainda,
«estou sentado virado para a parede desta casa».

Fazer que não haja sucedido o sucedido.
O prazer de sentir chegar as coisas
o riso sob a chuva
o frio que faz. Aqui

como podemos esperar uma noite de lua e vento?

João Miguel Fernandes Jorge, in "Direito de Mentir"

1 comentário:

Joana Espain disse...

'Há noites de lua e vento que eu nem entro..para não esperar'

Obrigada José