Hoje não era
flutuava de mão em mão
deslizava na curva que se demora
tanto no fundo de uma colher
para lhe entender o centro
como borda fora
do sofá à aresta da janela
e à boleia pelo azul
as curvas não têm pressa
têm pertença
alienam no recorte reiterado
de uma folha enrugada
e sabem que ondas
arqueiam e as esperam
largas no mar
até de madrugada.
mas rectas
aço a prumo que
furia de Goya a hoje
tubos de instantes
em finais entalados
entre olhos e entranhas
por não saberem curvar
alvos fáceis para o aço
as rectas
dois lados ridículos
um a olhar e outro a ver-se
lados que giram no tempo
em centros vira ventos
e jamais viram os ventos
Dois. Queria três
sem falências mil
ou excessos avessos
outra possibilidade
um ponto de outra vista
o ou sem ouro
três bicos e curvatura
para repensar a humanidade
se não tivesse três bicos
- não era -
3 comentários:
Joana um poema diferente daqueles a que nos habituaste, há um soltar de palavras e ambientes há voltas de lados rectos e lineares na necessidade de uma curvatura que interpretei como tolerância. parecem-me também claros os três bicos um de Goya outro de Manet e o outro que completa de quem observa. gostei do "fundo da colher para lhe entender o centro"
de todos os versos desde "as curvas" até "largas no mar até de madrugada", do "ou" como alternância sem o subjugar do "ouro" que encandeia e domina. gostei muito.
Abraço
Olá Joana,
Gostei muito deste poema. Dos dois pontos à vista e o desejo do outro ponto de outra vista. Resume o teu olhar analítico que encontra e procura sempre outras visões das coisas. Sabes, acho que posso dizer isto, mas nota-se uma evolução fantástica na tua escrita. Já gostava de ler o que escrevias, mas agora nota-se um trabalho para além do natural instinto de escrita.
Um beijinho muito grande
Gostei imenso, Joana! Tem aqui um belo texto. O "ou sem ouro" é uma ideia esplêndida.
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