domingo, 6 de setembro de 2009
Uma voz incompleta
Robert Doisneau "O beijo no Hotel de Ville" 1950
Um sabor de "Straciatella" sobre uvas
e morango na cor certa do desejo.
Um sábado de céu despido veste um mar
de linhas brancas.
Sinto sinais de uma ternura imensa
a mistura salgada que embala
numa escrita de penas, impermeável
aos mares da China;
sonetos salvos no desassossego
de um sentimento maior:
"Amor é fogo que arde sem se ver"
Escrevo as frases alinhadas
nas folhas de um bloco adolescente:
quadrados, nuvens, um quarto de lua
a cor rosa.
Inclino a cabeça um farol de espelhos
e recomeço o texto de franja descaída
nas dunas de uma ganga macia.
Gravo como artesão ourives
o ouro encoberto de almas indeléveis
belas como cálices de fontes puras
céus de mistérios
filamentos de um dossel bordado
reflexos de deusas na minha inquietude.
Há um trilho de lábios no meu diário
uma subida de muitas escadas
sem descanso no meu berço-
continuo os dias e mesmo
quando adormeço sonho a noite
e desfio sem ruído
uma voz incompleta
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