terça-feira, 4 de agosto de 2009

A catedral engolida



Depois daquela poesia a seguir ao almoço
no hábito que não é o nosso
desceu o sono, o farto sentir do cansaço
o abrir de uma rosácea que pedia descanso.
Dessa forma se fecharam os olhos
na calma branca de uma parede incompleta;
lugar onde caiu o quadro colorido
de um prego inseguro e superficial.
Seguiu-se o ruído de mundos leves
entrando e saíndo uma brisa breve de ritmos
escutando o sentir interior das furnas
na forma de sombras de um teatro antigo.

Os véus opacos desvendavam segredos apenas
a pássaros pequenos que debicavam migalhas
acesas sobre a mesa.

Nas almofadas dois rostos em crescendo
sem qualquer indício de faúlha, a faísca
que de lua em sol subia os lábios felizes
(felinos os corpos que quase miam
no jeito encolhido de um beiral de Agosto).
Dormiam, tanto dormiam.


No primeiro acordar foi tão nítido o sonho:
uma catedral engolida de ondas
ao som de um piano no breve instante.
Sobrou suspenso, não deglutido um vitral
filtrando cores de um insensato arco-íris
nos dois rostos calmos como os fenos-
quando não há mais ventos- e o mesmo som, dentro
de uma pequena imensa jarra feita em cima da mesa
de fios finos de estrelícias
aromas de narcisos
nas puras águas de uma ilha
onde habitavam os poemas
e à volta
as almas de todos os rios.

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