segunda-feira, 27 de julho de 2009

A propósito de um voo no Canal sem Mancha





A avioneta, asas largas lentas de esqueleto
recolhe de novo o mar, a travessia
amacia a brisa e estende mais longe
o lenço preso de cortinas no elmo
além no cubículo, lugar de um céu;
esse vasto Oceano lateral começa
nas praias brancas da ilha grande
adensa de azuis aos poucos metros
e avança sem medo, Calais, o cais de França.

Quis ser aviador, cruzar em(braços)
sentir livres tempos, ler o vento.

Em pequeno planava corredores de pés plenos
assentes no barulho trémulo de motores
crescentes nos lábios abertos; óculos grossos
de redondos, olhos abertos de sonhos;
cortava o ar no suposto perigo de
atrás das nuvens surgir o inimigo
ou antes o alívio; não ser mais
de um leve esvoaçar, uma cantiga
no bico curvo decidido de uma ave
nas alturas; a companhia, o abrigo
de um olhar no espaço sem degraus
que encanta, solta a alma, anima.

Associo esse desejo antigo ao bálsamo
bebida fresca, som amigo de perder
as rédeas que sufocam e nos pólens
da notícia, ganhar de novo asas
subir ao Paraíso.

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