Quero tempo de viver
preciso de tempo, de muito mais tempo,
porque um dia saís-te de mim
e leváste-me o meu tempo.
Por distanciação no tempo
e sem vontade expressa,
apoderáste-te do meu tempo:
o tempo alegre,
o da compaixão,
o do convívio
e da compreensão!...
Hoje vivo outro tempo:
o tempo do inconformismo,
e o tempo que gira em meu redor,
que é o da incompreensão,
o da marginalisação,
um tempo sem clarificação
e sem qualquer temporalidade!...
E eu , que até dominava o tempo
perdi assim de repente
todo o meu querido tempo.
----------------------------------
Mas pela paixão
recriei um outro tempo,
tempo de sentir,
tempo de amar e florescer,
mas ainda e sempre de saudade
por vezes de solidão:
é o meu tempo moderno,
assaz emotivo,
também de compensação,
mas em simultâneo
um tempo gélido
por ser de afastamento,
tempo de discriminação,
que eu devo compreender
mas que tanto afecta
meu tempo de viver!
Odeio agora o tempo,
aquele que eu não temia,
o mesmo que eu dominava!
Agora fragmento o tempo
para o preencher e aceitar,
e juro que nunca, mas nunca,
me deixarei por ele dizimar,
pois é um tempo que entristece
e por vezes me faz calar!
---------------------------------
Refugio-me silenciosamente
no tempo dos meus silêncios,
deixando-me assim dominar;
assim controlo o meu tempo,
o tempo que me vai restando,
mas que sempre me estimula,
incentiva e agiganta
na procura de um novo tempo:
tempo de nova vida,
de afeição e ternura,
tempo de concórdia familiar,
tempo de criatividade,
tempo de inovação de sentimentos,
tempo de humanismo
e de aproximação vital
entre todos os nossos tempos!
------------------------------------
Suplico apenas
mais tempo de viver,
um tempo de sublime vivência,
ou serei forçado a inventar
um pouco mais de tempo
além do meu actual
mas tão curto
e tumultuoso tempo!...
António Luíz ( 21-05-2009)
3 comentários:
Caro António
é um poema de muitos tempos que se sentem.
Este poema foi a origem da interrogação que me levou a escrever o poema que publiquei hoje.
Parabéns e obrigado.
No Tempo além do Tempo, cristaliza-se o tempo que já vivemos, fluí o tempo que estamos a viver e vamos recriando e irá deslizar o tempo "de sublime vivência", que esperamos, nos seja concedido, ou... que teremos de inventar!
Um lindíssimo poema, António Luiz!
Abraço.
M.C.
Obrigado Maria Celeste pelo caloroso elogio. É um poema que diz muito de mim, - do passado, do presente, e dum inevitável e diferente futuro - mas tb de um qualquer ser humano que se assuma como vivendo num "tempo emaranhado" e/ou acorrentado ao mesmo! Tenho já declamado este poema, emotivamente, com alguma sofreguidão e paixão... quem me ouviu gostou, e aplaudiu com emoção! Creio ser um poema algo intimista "de muitas vozes internas" para todos aqueles que se situam cá fora ao sabor do Tempo!...Obrigado. Saudações poéticas do Antonio.
Enviar um comentário