Há uma nervura constante que me aperta o sono
claridade na escuridão de fotogramas negativos;
agora um quadro nítido após um intervalo
depois um apagão e de novo outro que se apresenta
díspar na aparente imprecisão.
Esses sentidos que sempre se explicam
mas nunca nesta hora tardia
onde juntam asas os morcegos planadores
abrindo em espaços a luz das estrelas
significam a libertação dos limbos
nos ritmos acelerados de marimbas
em lagos planos
desejos de alma.
Estão cobertos os ombros nus
de bordados monogramas
só nossos como os genes
e os cabelos despenteados
aguçam o interno mundo
onde vivem homens de guelras no fundo do mar
onde anjos agitam harpas nas nuvens amarelas
Os ritmos as cores mudam no descanso do sonho:
um xilofone de Orff nos oito braços de um polvo
não é vulgar
um violino de cordas de barro não é suposto
tocar
melodias de Paganini
uma boneca de Rosa Ramalho de cara informe
não dança
no entanto
os oito braços podem ser desejos de sete vidas
mais esta que é real
as cordas de barro o medo de não ser flexível
não saber a música quebrar
a boneca de cara informe a fábula do sapo
na versão da princesa
sapatos de vidro sorriso de graça
verdadeiro rosto de mistério
alguém a quem se guarda
as palavras mais belas desta noite
onde como onda a nervura constante
me aperta o sono
Sem comentários:
Enviar um comentário