Olhos fechados janelas azuis. Dorme.
Duas águas a rodela de limão
três cafés uma entrada;
suspiro breve de migalhas brancas.
Palavras sobre as últimas enguias
finas nos mares da bonança
-rindo dos outros comuns distraídos-
abutres roucos de asas longas
nos grandes voos das finanças.
Macros e micros economias
no meio da impúdica ironia
acervo fácil justificação cúmplice
no falso sorriso de mãos abertas
o ombro encolhido na desculpa
os bicos amarelos de Calimeros:
"Injustiça! Injustiça! Nada disso!"
Uma gota de calor na testa
o abrir dos lábios
três meses apenas
janelas azuis
as mãos pequenas como borboletas.
Já não dorme.
Gestão moderna eficaz de milhões
nada existe golpe de Houdini
impunes os homens cinzentos.
Contas aos tombos de copas e espadas
castelos de cartas levou-as o vento.
Fica o som do desespero a denúncia
tudo passa e em último caso
a renúncia sem prisão nem ameaça.
Polvo enorme de tentáculos de algodão
clamando o branco o puro a inocência
de contas na Suissa, armas nas Filipinas
tsunamis financeiros no Japão.
Uma lágrima
pequeno choro em crescendo
movimento apressado dos lábios de botâo
o querer - instinto único de leite
o aconchego do seio
simples tão simples
nada nada mesmo de montanha russa
subida subida até à China
prédios inclinados em Nova York
cinzas em Saigão
bombas de ruínas na Palestina
as doenças perenes de Hiroshima.
Sossega o menino de rosto dourado
feliz na luz de esperança teimosa
de homens maiores
sem teatros
nem cinemas de maus actores.
Silêncio exterior
já dorme.
Sem comentários:
Enviar um comentário